Quando renasci

O ano era 2000, 1º de agosto, uma noite fria de inverno. Trabalhava há uns 2 anos numa empresa e tínhamos um curso para fazer.

(Nesse momento vou fazer um parêntese longo sobre esses dois anos trabalhando lá).

Era uma empresa familiar, que me acolheu como filha, onde eu trabalhava de segunda à sexta-feira, e em alguns finais de semana ia para a casa dos chefes, como parte da família, eu e outra colega/amiga maravilhosa que a vida me deu. Os chefes eram assim, de reunir e tratar bem quem eles gostavam e confiavam, e nós a mesma coisa. Sempre fomos criadas, eu e minha amiga, em família amorosa e muito unida.

(Voltando para a noite fatídica de agosto de 2000).

Íamos eu, minha amiga/colega e minha chefe/amiga para um curso na qual a empresa estava oferecendo e, se não me engano, estávamos no segundo dia do evento. Saíamos mais tarde da empresa nos dias de curso e nesse dia, ao atravessar a rua, estávamos de braços dados uma com a outra (estava muito frio naquela noite), quando um carro na contramão nos pegou em cheio (conforme testemunhas, parecíamos papelão voado pelos ares!). Nesse momento, uma em cada lado, tentávamos nos comunicar. Pessoas chegavam e não nos deixavam levantar. Eu tentava pedir para ligarem para meus pais, minha colega gritava e não falava coisa com coisa, minha chefe estava sentada e vomitava – a que estava mais mal de todas. A primeira ambulância veio e a levou, a segunda veio e levou a minha colega que também não estava bem. Os bombeiros vieram ajudar e me levaram. Como era horário de pico, o trânsito não ajudava – além do horário caótico, havia o nosso acidente triplo que fechou a avenida.

Chegando no pronto socorro eu perguntava pelas minhas colegas. A chefe continuava muito mal, vomitando sangue, e minha colega falava coisas aleatórias, nada a ver com a situação (sabia que ela não era ela ali).

Minha chefe faleceu 15 dias depois do acidente, deixando três filhos maravilhosos. Uma tão pequena, que olhava pro céu à noite e conversava com as estrelas, dizia que a mamãe havia virado estrelinha. Minha amiga/colega foi pra UTI, teve embolia pulmonar, fraturou o crânio, fêmur e a bacia, se não me engano… Mas está aqui conosco cheia de vida! Eu fiquei com o lado esquerdo do corpo todo roxo com hematomas e toda lembrança do ocorrido.

Aqui a parte mais difícil de contar: a pessoa que nos atropelou era médico, não prestou socorro, não honrou o juramento de salvar vidas. Poderia ter prestado os primeiros socorros das mais machucadas. Ele tentou fugir, e só parou porque os militares (era perto da área militar) sacaram a arma quando ele tentou ligar o carro após o acidente. A punição dele foi pagar cestas básicas, e até hoje continua com a sua linda profissão de salvar vidas.

A mim e minha amiga resta agradecer nossa segunda chance de vida e sempre lembrar do dia 1º de agosto.

Autor(a) anônimo(a)

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